Publicado no Site Sul 21
Duda Hamilton *
Na eleição de Santa Catarina tudo é possível nesses próximos 25 dias. As últimas pesquisas com respostas espontâneas mostram que 54% dos catarinenses ainda não sabem em quem votar. Na estimulada, o número cai para 23%. São estes indecisos que vão definir quem ganhará a eleição no Estado com quase 6 milhões de habitantes e 4 milhões e 200 mil eleitores. Os três candidatos – Ângela Amin, da coligação Aliança com SC (PP-PDT), Raimundo Colombo, da coligação As Pessoas em Primeiro Lugar (DEM-PTB –PMDB-PSL-PSC-PPS-PTC-PRP-PSDB), e Ideli Salvatti, da coligação A Favor de Santa Catarina (PT-PRB-PR-PSDC-PRTB-PHS-PSB-PC do B) - têm chance de chegar ao segundo turno, embora não se possa afirmar, com essa multidão de indecisos, se haverá segundo turno.
Angela (29%), que liderava as pesquisas até 4 de agosto, tem sua liderança ameaçada por Raimundo Colombo (25%). Ideli corre por fora (14%) e aposta nos indecisos e na onda Dilma. A pesquisa Vox Populi, divulgada no último sábado (4/9) indica ainda que os candidatos Valmir Martins (PSOL), Amadeu Hercílio Luz (PCB) e José Carmelito Smieguei (PMN) possuem 1% de intenções de voto cada um. Os outros dois, Rogério Novaes (PV) e Gilmar Salgado (PSTU), não pontuaram.
O professor e cientista político da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Remy J. Fontana ressalta que a relativa diluição ideológica de um lado e de outro e, como consequência, expectativas de alianças num provável segundo turno, deixa a eleição morna. “O que impera até agora é a cautela e discursos mais ou menos indiferenciados em torno de políticas públicas e demandas da sociedade”, avalia. Fontana ressalta ainda que as três principais forças - Ângela Amim, Raimundo Colombo e Ideli Salvati - são desiguais em termos de recursos, máquina partidária e base social, mas dadas as circunstâncias da dinâmica das eleições presidenciais, cada uma das três poderá ter êxito. “O que parece certo é a realização do segundo turno quando, muito provavelmente, uma candidata da oposição terá o apoio da outra no confronto com Colombo. Mas não está totalmente descartada, ainda que improvável, as duas candidatas de oposição chegarem ao segundo turno”, observa.
Até as estratégias adotadas são mornas. Não há briga entre os candidatos e isso, talvez, talvez seja a razão a campanha estar tão insossa. Os partidos utilizam diferentes formas para captar a atenção do eleitor, mas nada que tenha feito muito efeito. A equipe de Colombo, segundo o coordenador da campanha e secretário licenciado de Comunicação do Estado, Derly Massaud, vai intensificar os contatos com o eleitor, por meio de caminhadas, carreatas e comícios. “Nossa coligação tem a grande vantagem que é o tempo de rádio e televisão, além de uma infantaria sem igual de quase 500 mil filiados”, argumenta.
Já o coordenador de Imprensa de Ângela Amin, Bonifácio Thiesen, explica que a campanha vai continuar por todo o Estado. “A Ângela já visitou 163 municípios, desde a convenção. E nossa meta é ir até os 293 ainda no primeiro turno e, em alguns, várias vezes”.
Diferente dos outros dois adversários, Ideli Salvatti tem o tempero para salgar um pouco estas eleições: o que já fez por Santa Catarina nos últimos anos no Senado, junto com o Governo Lula, e especialmente o que fará com o apoio da candidata à Presidência da República pelo PT, Dilma Rousseff, que, segundo as pesquisas, poderá vencer a eleição em primeiro turno. “Não temos só discurso. Temos o que mostrar. Mais do que falar, a gente faz. Temos convicção de que cada vez mais as pessoas compreendem que, com Dilma presidente, nós somos a alternativa para Santa Catarina ganhar mais. Essa é nossa mensagem, que norteia nossa comunicação”, ressaltou Ideli.
Sem dúvida, segundo o cientista político, Ideli se beneficia de um partido com maior inserção social e maior capacidade de mobilização de militância.
As chances dos candidatos
Nos programas de televisão exibidos até agora em Santa Catarina, o bom mocismo impera e é o traço comum aos três candidatos – Ângela Amin, Raimundo Colombo e Ideli Salvatti. O candidato ao governo pelo DEM, Raimundo Colombo dispõe de sete minutos de propaganda, enquanto o tempo de Ideli Salvatti, do PT, é de quatro minutos e de Angela Amin do PP, é o menor: dois minutos.
O cientista político Remy J. Fontana, professor da Universidade Federal de Santa Catarina, analia as chances de cada um dos candidatos:
ÂNGELA AMIN – Usa expressões, como carinho, dedicação, sinceridade, amor à família e à cidade e outras pouco próprias à esfera pública. Se tais atributos e virtudes compõem usualmente as bases formativas de um íntegro caráter, pelo menos desde Maquiavel, sabe-se que eles não são nem essenciais, nem talvez desejáveis para o sucesso de um governante. Bom coração e discursos amorosos sobre o bem público podem embalar almas singelas, mas nada asseguram sobre as condições de uma boa governança.
É a candidatura mais frágil em termos de estrutura partidária, coligação e tempo no horário eleitoral. Seu ponto forte são os bons índices de largada nas pesquisas eleitorais que, no entanto, apontam para uma queda. Seu programa no horário eleitoral é benfeito, mas padece, como os outros, de certo artificialismo. Sua maior aposta parece ser um empenho pessoal de contato direto com o maior número de eleitores.
Assim como Colombo, Ângela procura construir uma imagem de competente gestora, num discurso desideologizado, centrado na realização de obras e atendimento a reivindicações setoriais ou comunitárias. O que falta é a projeção de novos horizontes para a sociedade. Suas chances são de boas a razoáveis, em função de um equilíbrio precário entre uma boa imagem consolidada e bons índices na pesquisas e a carência de recursos e estruturas na atual campanha. Sua posição algo oportunista de não declarar apoio nem vincular-se a nenhuma das candidaturas presidenciais, na expectativa de captação de votos de todos os campos, pode lhe sair caro, especialmente numa eventual ida ao segundo turno.
RAIMUNDO COLOMBO – O candidato compõe uma figura simpática e com fluente articulação verbal; um ar de bom mocismo. No entanto, seu discurso de renovação é artificial, seja porque seu partido e as principais lideranças que o apóiam fazem parte de grupos que dominaram a política catarinense por muitos anos, inclusive por meio de formas oligárquicas; seja porque fizeram parte do governo Luiz Henrique nos últimos oito anos. Também não convence como encarnação do novo, pois está na vida pública há mais de 30 anos.
“Eu quero ser o mais prefeito dos governadores”, diz Colombo, que foi prefeito de Lages. Esta afirmação textual é indicativa de sua concepção de governança. Pode ser algo simpático, indicar uma gestão próxima aos cidadãos, mas certamente um tanto irrealista. Trata-se mais de um componente de uma cultura provinciana, inadequada às condições de hoje, de alta complexidade social e estatal.
Embora forte, a coligação que sustenta Colombo foi gestada à forceps, em manobras urdidas à última hora especialmente por Luís Henrique, ex-governador, pelo PMDB. As chances eleitorais são boas, pela forte coligação que o sustenta, mas compartilha o eleitorado conservador com a candidata Ângela Amin.
IDELI SALVATTI – A senadora se apresenta com uma postura um tanto ambígua ao procurar mostrar-se amena e suave, quando fez sua vida política num registro mais combativo e, em muitas vezes, agressivo. Com isso, cria uma certa indefinição quanto a sua imagem pessoal, seu novo perfil, sua própria identidade. Dos candidatos que são parlamentares (Ideli, Angela e Colombo), Ideli foi a única incluída na lista dos 100 destaques do Congresso Nacional nesta legislatura. Isto certamente atesta seu ativismo parlamentar e seu prestígio nos altos círculos do poder federal, conferindo-lhe importantes credenciais, caso eleita, a confirmar-se o favoritismo de Dilma.
Possui uma boa articulação verbal o que denota clareza de ideias e vivacidade de inteligência, ativos valiosos numa campanha e mais do que bem-vindos a um prospectivo governante. Além disso, Ideli se beneficia de um partido com maior inserção social e maior capacidade de mobilização de militância. É sustentada por uma ampla coligação, embora de pequenos partidos.
Suas chances eleitorais são razoavelmente promissoras. Está num crescendo que deverá intensificar-se devido à vinculação com Lula e Dilma, que nesta eleição, diferentemente de anteriores, avançam e crescem eleitoralmente em Santa Catarina, ultrapassando pela primeira vez as candidaturas presidenciais do PSDB.
* jornalista, escritora e blogueira
As chances dos candidatos
Nos programas de televisão exibidos até agora em Santa Catarina, o bom mocismo impera e é o traço comum aos três candidatos – Ângela Amin, Raimundo Colombo e Ideli Salvatti. O candidato ao governo pelo DEM, Raimundo Colombo dispõe de sete minutos de propaganda, enquanto o tempo de Ideli Salvatti, do PT, é de quatro minutos e de Angela Amin do PP, é o menor: dois minutos.
O cientista político Remy J. Fontana, professor da Universidade Federal de Santa Catarina, analia as chances de cada um dos candidatos:
ÂNGELA AMIN – Usa expressões, como carinho, dedicação, sinceridade, amor à família e à cidade e outras pouco próprias à esfera pública. Se tais atributos e virtudes compõem usualmente as bases formativas de um íntegro caráter, pelo menos desde Maquiavel, sabe-se que eles não são nem essenciais, nem talvez desejáveis para o sucesso de um governante. Bom coração e discursos amorosos sobre o bem público podem embalar almas singelas, mas nada asseguram sobre as condições de uma boa governança.
É a candidatura mais frágil em termos de estrutura partidária, coligação e tempo no horário eleitoral. Seu ponto forte são os bons índices de largada nas pesquisas eleitorais que, no entanto, apontam para uma queda. Seu programa no horário eleitoral é benfeito, mas padece, como os outros, de certo artificialismo. Sua maior aposta parece ser um empenho pessoal de contato direto com o maior número de eleitores.
Assim como Colombo, Ângela procura construir uma imagem de competente gestora, num discurso desideologizado, centrado na realização de obras e atendimento a reivindicações setoriais ou comunitárias. O que falta é a projeção de novos horizontes para a sociedade. Suas chances são de boas a razoáveis, em função de um equilíbrio precário entre uma boa imagem consolidada e bons índices na pesquisas e a carência de recursos e estruturas na atual campanha. Sua posição algo oportunista de não declarar apoio nem vincular-se a nenhuma das candidaturas presidenciais, na expectativa de captação de votos de todos os campos, pode lhe sair caro, especialmente numa eventual ida ao segundo turno.
RAIMUNDO COLOMBO – O candidato compõe uma figura simpática e com fluente articulação verbal; um ar de bom mocismo. No entanto, seu discurso de renovação é artificial, seja porque seu partido e as principais lideranças que o apóiam fazem parte de grupos que dominaram a política catarinense por muitos anos, inclusive por meio de formas oligárquicas; seja porque fizeram parte do governo Luiz Henrique nos últimos oito anos. Também não convence como encarnação do novo, pois está na vida pública há mais de 30 anos.
“Eu quero ser o mais prefeito dos governadores”, diz Colombo, que foi prefeito de Lages. Esta afirmação textual é indicativa de sua concepção de governança. Pode ser algo simpático, indicar uma gestão próxima aos cidadãos, mas certamente um tanto irrealista. Trata-se mais de um componente de uma cultura provinciana, inadequada às condições de hoje, de alta complexidade social e estatal.
Embora forte, a coligação que sustenta Colombo foi gestada à forceps, em manobras urdidas à última hora especialmente por Luís Henrique, ex-governador, pelo PMDB. As chances eleitorais são boas, pela forte coligação que o sustenta, mas compartilha o eleitorado conservador com a candidata Ângela Amin.
IDELI SALVATTI – A senadora se apresenta com uma postura um tanto ambígua ao procurar mostrar-se amena e suave, quando fez sua vida política num registro mais combativo e, em muitas vezes, agressivo. Com isso, cria uma certa indefinição quanto a sua imagem pessoal, seu novo perfil, sua própria identidade. Dos candidatos que são parlamentares (Ideli, Angela e Colombo), Ideli foi a única incluída na lista dos 100 destaques do Congresso Nacional nesta legislatura. Isto certamente atesta seu ativismo parlamentar e seu prestígio nos altos círculos do poder federal, conferindo-lhe importantes credenciais, caso eleita, a confirmar-se o favoritismo de Dilma.
Possui uma boa articulação verbal o que denota clareza de ideias e vivacidade de inteligência, ativos valiosos numa campanha e mais do que bem-vindos a um prospectivo governante. Além disso, Ideli se beneficia de um partido com maior inserção social e maior capacidade de mobilização de militância. É sustentada por uma ampla coligação, embora de pequenos partidos.
Suas chances eleitorais são razoavelmente promissoras. Está num crescendo que deverá intensificar-se devido à vinculação com Lula e Dilma, que nesta eleição, diferentemente de anteriores, avançam e crescem eleitoralmente em Santa Catarina, ultrapassando pela primeira vez as candidaturas presidenciais do PSDB.
* jornalista, escritora e blogueira
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